O hóquei em patins é uma modalidade desportiva que renasce na cidade de Nampula. Apesar do número crescente de atletas, sobretudo do escalão de iniciados, a falta de um piso condigno e de material apropriado para os atletas continuam a embaraçar a sua prática.
Em 2004, na cidade de Nampula, nasceu uma academia designada por Núcleo de Hóquei em Patins de Napipine, fruto da iniciativa de dois ex-praticantes, António do Rosário Hipo e Luís Amade, de revitalizar o hóquei. O mesmo funciona no pavilhão de jogos da Escola Secundária de Napipine, no centro desta urbe, que pese embora seja um piso inapropriado, é o único recurso a que os hoquistas têm de recorrer para levar a cabo as suas actividades a cada fim-de-semana.
“Elevar o hóquei em patins em Nampula” é o slogan usado por este núcleo ainda que, diga-se, a remar contra a maré devido à falta de vontade política para o efeito. Ou seja, esta colectividade subsiste num meio que desconhece, na plenitude, a existência desta modalidade.
As despesas correntes da mesma, por exemplo, são custeadas na totalidade pelos respectivos fundadores, ainda que em Dezembro último a Federação Moçambicana de Hóquei tenha prestado apoio material. Apesar da inexistência de clubes, o que poderia dar outro ânimo à modalidade, sobretudo na criação de espaços para as competições, todos os domingos vários petizes deslocam-se àquele local, no centro da cidade de Nampula, a fim de aprenderem a patinar bem como de exibirem aquilo que mais sabem fazer neste tipo de desporto.
Com dez atletas no princípio, hoje o núcleo conta com um pouco mais de 30, todos desta região. O dia-a-dia desta agremiação resume-se em tentar, a vários níveis, combater a falta de competições neste ponto do país dividindo, por exemplo, os petizes em seis equipas como forma de, também, avaliar o grau de evolução dos mesmos.
E devido ao nível satisfatório desta estratégia, já se equaciona, no seio dos responsáveis do mesmo, a expansão desta iniciativa para outras escolas da província, com maior enfoque para as dos municípios de Angoche, de Nacala-Porto e de Monapo, visto disporem de infra-estruturas adequadas para o efeito, ainda que não nas condições desejáveis.
Contudo, este núcleo, neste mês de Setembro, terá a oportunidade de deslocar-se para a cidade de Quelimane a convite da sua homónima desta urbe do Centro do país, para um intercâmbio desportivo que visa a troca de experiência e que culminará com a realização de alguns jogos.
Nesta edição damos a conhecer alguns integrantes deste núcleo.
Justino Cardoso, 18 anos
É estudante da nona classe na Escola Secundária de Napipine. Está nesta academia há praticamente sete anos, ou seja, desde 2006. Conta que quando começou o núcleo não tinha nenhum tipo de material desportivo, mas que apesar destes constrangimentos não perdeu a fé e decidiu abraçar o hóquei até tornar-se, hoje, numa referência desta agremiação.
O seu maior sonho é envergar a camisola da selecção nacional e pisar os maiores palcos de hóquei em patins do mundo.
“Na minha infância pratiquei várias modalidades como por exemplo o futebol. Mas o hóquei tornou-se numa paixão para mim e cá sinto-me bem” afirmou Cardoso.
Nilza Armando, 16 anos
Frequenta a 10ª classe na Escola Secundária da Barragem, na cidade de Nampula. Abraçou a modalidade em 2009, ano em que engrenou no núcleo. Confessa que teve enormes dificuldades para aprender a patinar e não esperava ser considerada, na actualidade, uma das melhores jogadoras desta academia de hóquei em patins.
Muitos admiram as suas exibições e a sua capacidade combativa. Por inúmeras diversas vezes pensou em desistir, alegadamente por falta de estímulo. Invoca a falta de competições como a principal razão.
Perdeu a esperança de um dia poder brilhar em grandes pavilhões desportivos, bem como de conquistar troféus quer dentro do país, quer no estrangeiro. Mantém-se no hóquei por paixão.
“Com o tempo fui melhorando a minha prestação. Temos, ainda, falta de material. Mas se levassem o desporto a sério neste país, acho que podia fazer mais e melhor, como por exemplo elevar as cores da bandeira nacional além-fronteira. Temos falta de fisioterapeutas que nos possam dar assistência em casos de lesões” desabafou.
Eugénio Samuel Lino, 17 anos
Está no Núcleo de Napipine há exactos três anos. É estudante da 11ª classe na Escola Secundária com o mesmo nome. Numa primeira fase foi difícil para Eugénio assimilar a patinagem. Aliás, o atleta chegou a contrair uma lesão grave nos primórdios, mas nada que o fizesse desistir desta modalidade.
Apesar de ser novo na agremiação, a sua prestação tem registado avanços significativos, pese embora o seu núcleo tenha crónicos problemas de falta de material, bem como do piso impróprio para a prática da modalidade.
“Para além de treinar tenho visto, através da televisão, muitos jogos internacionais de hóquei em patins e isso tem me ajudado bastante a melhorar o meu talento, ainda que no meio de muitas dificuldades” disse.