Dedicação, gentileza e paciência é o que acha que o seu ofício deve merecer a enfermeira Chica Albano António, que, há três anos, sozinha, garante o funcionamento de diferentes sectores do Centro de Saúde de Ilalane, no povoado com o mesmo nome, no distrito de Nicoadala, na província da Zambézia.
“É difícil, porém, jurei cuidar de pessoas e não posso queixar-me tanto, apesar das dificuldades. É preciso gostar do que se faz como profissão, mas acima de tudo planificar cada tarefa a executar para saber estabelecer prioridades”. Foi com estas palavras que a enfermeira de Saúde Materno Infantil (SMI) daquela unidade sanitária caracterizou o seu trabalho, num país onde o rácio médico/paciente é de um para 20 mil habitantes e o rácio enfermeiro/paciente é de um para oito mil habitantes.
Aliás, Moçambique tem menos de 1.500 médicos para servir uma população de 23 milhões de habitantes, uma relação sobejamente insuficiente a avaliar por aquilo que tem sido a falta de profissionais no Sistema Nacional de Saúde, principalmente nas zonas recônditas.
A nossa interlocutora disse-nos ainda que as observações médicas complicadas que já fez têm a ver com partos difíceis e apoiou dezenas de mulheres a darem à luz nessas situações. Quando não pôde ajudar devido à gravidade do caso, a parturiente foi transferida para o Hospital Provincial de Quelimane, o mais próximo do lugar onde exerce as suas funções.
Sem entrar em detalhes, Chica sublinhou que as condições do seu ofício não são boas mas isso não lhe impede de ter sempre motivação para atender os doentes. Diariamente assiste entre 140 e 150 pacientes que se fazem aos serviços de consultas externas. A receptividade que com que lhes trata resulta numa relação saudável com os mesmos.
“Entro às 07h:00, mas chego sempre antes dessa hora porque, por vezes, há pacientes na sala de parto que precisam de ser acompanhadas. Às 15h:30 devia encerrar as portas do centro mas não tenho coragem de deixar doentes na fila ou de lhes mandar voltar no dia seguinte. Sou obrigada a estender o horário de atendimento até que todos sejam observados”.
Há pouco tempo, a nossa entrevistada passou a contar com o auxílio de uma agente de serviço (servente). Contudo, isso não fez com que a maternidade, as consultas pré-natais, os serviços de farmácia, a administração, dentre outros serviços, deixassem de depender dela.
A residência de Chica situa-se na cidade de Quelimane mas, neste momento, ela vive no povoado de Ilalane, numa casa de enfermeiros – em condições precárias – com vista a estar perto da unidade sanitária. Esta, para além de problemas relacionados com a falta de água, não dispõe de corrente eléctrica e os painéis solares disponíveis são problemáticos. Por isso, o atendimento nocturno de doentes, principalmente os partos, é assegurado à luz de candeeiros alimentados por algum fluido combustível.
“A minha casa fica a 25 ou 30 quilómetros de Quelimane, o meu local de trabalho. O vaivém é complicado porque as vias de acesso são precárias e há falta de transporte, por isso, recorremos a bicicletas. Só regresso para ver a minha família aos fins-de-semana quando na maternidade, por exemplo, não existem parturientes, caso contrário não existe outra alternativa senão permanecer no centro”.
Sobre a necessidade de recrutar mais profissionais para o Centro de Saúde de Ilalane, a Direcção Provincial de Saúde da Zambézia diz que ainda não há técnicos para o efeito, segundo nos contou Chica, transferida do Centro de Saúde de Ionge, sito no distrito de Nicoadala.
O povoado de Ilalane não é excepção no que diz respeito às dificuldades no abastecimento de água: a população local faz “gincanas” para obtê-la, principalmente no Verão. Chica contou-nos que para abastecer os reservatórios do centro recorre a um furo privado que se encontra nas proximidades.
No povoado de Ilalane, as enfermidades que mais apoquentam a população são as diarreias agudas e a malária.
A enfermeira explicou-nos que as diarreias se devem ao consumo de água não tratada. A malária é causada pela existência de pântanos, pois Ilalane é uma zona agrícola e com culturas de arroz.
Refira-se que, apesar da gritante falta de profissionais de saúde com que o país ainda se debate, o Ministério da Saúde (MISAU) iniciou, em Junho último, um processo de reforma, por limite de idade, de médicos. A primeira lista abrange 24 terapeutas, dos quais quatro já foram afastados dos seus postos de trabalho no Hospital Central de Maputo (HCM), nomeadamente Ana Maria da Graça Ferreira Lopes Pereira, Benedita Anastácia da Silva, Maria Manuel Caldo Martins Cunha e Elias Suiane Fernando Walle, todos com a categoria de Médico Hospitalar Consultor.