Seis velejadores moçambicanos participaram no Campeonato Africano de Vela na classe Optimist, entre os dias 20 e 28 de Agosto em Cape Town, África do Sul. Moçambique obteve a melhor prestação de sempre, o que nos valeu a subida ao topo do ranking africano nesta categoria.
No certame que decorreu em Cape Town, Moçambique entrou como “outsider”, ou seja, o elo mais fraco, atendendo que as outras formações estavam mais rodadas devido aos seus campeonatos que são regulares, diferentemente do nosso país, bem como por terem participado em várias regatas internacionais na fase de preparação para este “Africano”.
A selecção nacional preparou-se em Maputo para enfrentar adversários como Angola, África do sul e Argélia, que antes deste certame efectuaram estágios na Espanha e no Brasil. Todavia, mesmo em situação de desvantagem, os nossos representantes souberam honrar o país ao conquistarem um total de cinco medalhas, o número máximo alcançado por uma delegação nesta competição, sendo três nas provas individuais e duas nas colectivas também denominadas “Team Racing”.
Na África do Sul estiveram presentes 17 países, dos quais 13 africanos, sendo os restantes convidados, nomeadamente Estados Unidos de América, Noruega, Inglaterra e Alemanha, que participaram somente para conferir rodagem competitiva aos seus velejadores. A comitiva moçambicana era constituída por oito elementos dos quais seis são atletas, um treinador e um dirigente federativo.
O destaque para os premiados vai para Neide Nhaquila que revalidou o título de campeã africana, conquistado pela primeira vez no ano passado na Tanzânia. Maria Chaquile alcançou a medalha de bronze. Estas duas velejadoras, em equipa, garantiram a Moçambique a segunda posição.
Em masculinos, apesar de o país ter viajado para aquela cidade sul-africana com quatro atletas, o combinado nacional conquistou duas medalhas, sendo uma de prata por Diogo Sanchez, na prova individual, e a outra de bronze por equipas.
Com estes resultados, Moçambique assalta a liderança do ranking africano de vela na classe Optimist, superando a África do Sul que nos últimos dois anos ocupou a primeira posição. No terceiro lugar ficou a Argélia seguida pela Tunísia.
Os nossos “juniores” foram autênticos profissionais
Para Hélio da Rosa, secretário-geral da Federação Moçambicana de Vela e Canoagem, apesar das dificuldades vividas no período de preparação, “os pequenos velejadores comportaram-se como verdadeiros heróis, ainda que lhes faltasse rodagem em relação aos outros países como a África do Sul que levou mais de 15 atletas para esta prova”. Aquele dirigente realçou o facto de Moçambique ter ido ao Campeonato Africano de Vela na classe Optimist com apenas seis atletas, tendo conquistado cinco medalhas.
Da Rosa afirmou ainda que estas conquistas servem de motivação para o próximo Campeonato Africano na classe laser, agendado para o próximo mês de Novembro na Tunísia. Contudo, lamenta a falta de apoio à modalidade ainda que consiga, com os poucos recursos, erguer a nossa bandeira a nível internacional.
César Sanchez, treinador da selecção nacional, por sua vez, realçou que este triunfo é fruto de muito trabalho e humildade, não esquecendo as dificuldades que enfrentou na fase de preparação. “Os nossos meninos conseguiram surpreender a todos, visto que ninguém contava com isto. Todos atribuíram o favoritismo aos países que estiveram no ‘Mundial’ da Itália” disse.
“Tenho orgulho de ser treinador destes briosos rapazes. Apesar de miúdos, eles comportaram-se como verdadeiros profissionais e trabalharam arduamente para atingir os seus objectivos. Acredito que com melhores condições eles vão trazer grandes alegrias ao povo moçambicano” concluiu.
Os perfis dos nossos velejadores
Neide Nhacale, medalha de ouro
É a bi-campeã africana de vela na classe Optimist. Nasceu a 30 de Julho de 2000 em Maputo, tendo chegado ao mundo da vela quando tinha apenas 10 anos pela porta do Clube Marítimo de Maputo. Naquela altura, aquela colectividade desportiva estava à procura de novos velejadores nas escolas primárias da capital do país.
Aprendeu a nadar, como primeiro passo para se ser velejador, e revela que recusou a primeira oportunidade que teve de dirigir um barco a vela por medo do mar. Porém aceitou, dias depois, por insistência de Hélio da Rosa, o actual secretário-geral da federação.
Actualmente frequenta a 8ª classe na Escola Secundária de Triunfo. Sonha em ser campeã mundial de vela e está ciente de que tal feito só será possível com muito esforço e empenho. O seu objectivo na vida é tornar-se uma “top model” ou estrela de televisão.
Neide promete lutar para erguer mais alto a bandeira de Moçambique, depois da conquista de dois títulos africanos. Afirma que se não fosse pelo apoio que a sua família tem dado, sobretudo do seu pai, já teria desistido da vela.
Maria Chaquile, medalha de bronze
Assim como Neide, Maria entrou no mundo da vela a convite do Clube Marítimo em 2010. Começou pela natação antes de aprender a conduzir um barco a vela. Nasceu a 8 de Junho de 1998 na cidade de Maputo.
Tinha medo do mar inicialmente, algo que já não acontece na actualidade. Frequenta a oitava classe na Escola Secundária de Triunfo.
O seu maior sonho é ser campeã olímpica e mundial. A sua mãe é quem lhe transmite estímulo para crescer a cada dia nesta modalidade desportiva.
Diogo Sanchez, medalha de bronze
Entrou na vela com apenas cinco anos por influência do irmão que na altura praticava esta modalidade. Nasceu a 5 de Abril de 2000 e actualmente frequenta a 8ª classe na Escola Portuguesa de Moçambique.
Quer ser, conforme revela, “um homem muito rico”, ainda que desconheça o caminho a percorrer para acumular tal riqueza. Mas no desporto quer ir aos Jogos Olímpicos e vencer um campeonato do mundo. A sua fonte de inspiração é o seu próprio irmão, César.
Jeremias Feliciano, medalha de bronze
É o velejador que ajudou o país a conquistar uma medalha de bronze nas provas colectivas. Nasceu a 13 de Julho de 2001, tendo chegado ao mundo da vela em 2010, através do Clube Marítimo.
Neste momento frequenta a 8ª classe na Escola Secundária Francisco Manyanga e o seu maior sonho é formar-se em Administração Pública. Como atleta quer sagrar-se campeão olímpico e está ciente de que para o efeito poderá contar com o apoio da família e do Governo moçambicano.
Deurick Mavimbe
Nasceu a 21 de Outubro de 1998. É velejador desde 2010 do Clube Marítimo de Maputo. Actualmente frequenta a oitava classe na Escola Portuguesa. Quer trabalhar para um dia sagrar-se campeão mundial de vela. A sua fonte de inspiração é o seu próprio treinador, César Sanchez, que ela considera um segundo pai.