Conduzir ou andar a pé em algumas artérias, sobretudo as mais movimentadas da capital moçambicana, da Matola e de Nampula, como é o caso da Rua da Beira, de Tete, das Flores, das avenidas do Trabalho, Marien Ngouabi, de Angola, Estrada Velha, Paulo Samuel Kamkomba, FPLM, 3 de Fevereiro, Samora Machel e Continuadores da Revolução é um autêntico martírio.
Os buracos que, paulatinamente, substituíram o asfalto ante a incapacidade do município para conter o fenómeno antes de requerer obras de grande envergadura, deixam qualquer automobilista ou transeunte com os nervos à flor da pele. Nos dias de chuva, a situação agrava-se e os problemas relacionados com a falta de manutenção, a baixa qualidade dessas vias e a ausência da fiscalização são amplamente visíveis e incontestáveis.
Ao contrário do que acontece na capital moçambicana e na Matola, em Nampula os buracos estão a ser cobertos pouco a pouco. Para além da asfaltagem, decorem obras de ampliação de algumas vias de acesso que ligam a urbe à zona periférica.
Na cidade de Maputo, os buracos nascem pequenos e passam a crateras sob o olhar impávido e sereno do Conselho Municipal. Na altura em que este decide repor o asfalto numa certa via, tudo parece acontecer de forma atabalhoada, paliativa e sem nenhum critério que confira qualidade às obras. Enquanto algumas covas são tapadas, tantas outros – que de rasos passam a fundos – abrem-se nas imediações.
A Rua de Kassuende, por exemplo, até as primeiras horas desta segunda-feira (11) estava tremendamente esburacada. Os condutores, com a excepção dos operadores do transporte semicolectivo de passageiros, abandonaram o troço para poupar os seus veículos.
Já os “chapeiros”, que por obrigação do itinerário estabelecido nas licenças do trabalho que prestam aos munícipes não têm como fugir daquele caos, a não ser que queiram ser multados, de forma alguma podiam evitar agravar os problemas mecânicos dos seus automóveis em cada viagem que faziam.
Os mais ousados galgavam o passeio para embarcar e desembarcar os utentes, principalmente nos dias de chuva em que poças de águas abundam no local. Entretanto, não se sabe por grito de quem que no princípio da tarde do mesmo dia a edilidade decidiu pôr mãos à obra. Mandou uma equipa para o terreno de modo a minimizar a situação.
Porém, o que agora se vê naquela via são remendos que, à semelhança do que tem acontecido nas outras artérias da urbe, não irão durar muito tempo. Para além do intenso movimento de viaturas que por dia transitam naquele troço, o @verdade aposta que a próxima que for a cair fará todo o trabalho voltar à estaca zero.
Aliás, soubemos que nenhum fiscal esteve lá para verificar, mandar corrigir uma e outra irregularidade, aprovar ou, se necessário, chumbar o que se fez. Estradas realmente planadas e em boas condições de transitabilidade contam-se aos dedos nesta cidade que se presume ser “Próspera, Bela, Limpa...”
Ao que soubemos, os homens que estiveram a trabalhar não pertencem a nenhum empreiteiro, são da edilidade, o que significa que internamente existe uma equipa que bem ou mal pode atacar os buracos que proliferam um pouco por todas as estradas da capital Maputo ainda a surgir.
As avenidas do Trabalho, de Angola, Ahmed Sekou Touré, as ruas da Beira e Henri Junod há muito tempo que não beneficiam de nenhuma reabilitação. Nestas e outras vias falar de obras de manutenção chega a ser um insulto aos munícipes que pagam impostos para ter melhores vias de acesso e serviços municipais. Alguns buracos existentes nestes troços são de “engolir” um pneu de uma viatura caso o condutor se descuide.
Na Avenida de Angola, da Somafer ao supermercado Pick n Pay, a situação requer uma intervenção de raiz há mais de um ano. E enquanto ninguém faz nada os prejuízos recaem sobre os automobilistas que, por dependerem daquele troço para chegar aos seus destinos, não têm outra alternativa. O caricato ainda é quando devem levar esses mesmos veículos aos centros de inspecção periódica. Eles queixam-se disso e alegam que estão a ser submetidos a um procedimento injusto.
Para além de buracos, a via em alusão debate-se com problemas de águas estagnadas. Em alguns pontos, as faixas de rodagem e as bermas foram cobertas pela areia e pelo lixo. As sarjetas já não escoam a água como devia ser porque os plásticos e outros resíduos sólidos entupiram os canais de filtração. Os passeios apresentam os mesmos problemas de sempre: buracos.
Na Rua do Aeroporto, defronte do mercado de Mavalane, os condutores esquivam-se, regularmente, dos buracos para escolher os menos fundos e poder prosseguir viagem. É também assim na Avenida Ahmed Sekou Touré. E situação idêntica vive-se na Avenida dos Trabalho, sobretudo em frente do Mercado Municipal de Malanga e das bombas de gasolina da Sasol e Petromoc, nas imediações da Toyota de Moçambique.
Os automobilistas disputam a mesma faixa de rodagem por causa das covas que inviabilizam o fluxo normal de tráfego. Em alguns pontos o passeio “desapareceu” com o tempo e ninguém se interessa em repô-lo e não se sabe de que lado ficam as sarjetas porque todas estão obstruídas.
Aliás, na Avenida do Trabalho – nas proximidades do Entreposto – há uma rua que dá acesso ao Hospital Geral José Macamo, mas está um calvário. Os buracos que ali existem confundem-se com as crateras e transformaram- se em poças de água. Ainda naquele troço, a par do que ocorre na avenida de Angola, em alguns lugares não se percebe porque é que os passeios deixaram de existir e no seu lugar apareceram declives.
O caos é de tal sorte que parece que as autoridades municipais capitularam. Há quem acredite que o grande problema dessas artérias está na qualidade do material usado para a asfaltagem e o Conselho Municipal de Maputo sabe o que é necessário fazer para evitar tal situação. A Avenida Guerra Popular, por exemplo, apresenta pequenos buracos em quase toda a sua extensão. Multiplicam-se e aumentam de profundidade à medida que o tempo passa sem que haja reposição do asfalto.
Na esquina entre essa mesma avenida e a Ho Chi Min, em frente ao Mercado Mandela, há uma cratera que requer uma intervenção, à semelhança das outras estradas que se encontram em situações precárias. Os automobilistas dizem que não circulam normalmente porque com aquele problema a via encontra-se bastante estreita.
Sem nenhum esforço para mapear os lugares com estas características em Maputo, existe um outro ponto que merece menção ao longo daquela via, designadamente o buraco que se encontra no meio da estrada, próximo à paragem Ponto Final. Embora de pouco tamanho, tem uma profundidade considerável e constitui um perigo para os transeuntes.
Em muitas artérias da cidade de Maputo as estradas estão a ficar progressivamente esburacadas. O cenário agrava-se a cada dia que passa. Uma das provas inequívocas deste martírio, sob a letargia da edilidade, é a Avenida Marien Ngouabi. No entroncamento com a Avenida Acordos de Lusaka, nas imediações da 6ª Esquadra da Polícia da República de Moçambique, só um trabalho de engenharia pode resolver o problema.
No prolongamento da mesma Avenida Marien Ngouabi, em direcção à Avenida Karl Marx, estão a nascer muitos buracos sob o olhar impávido do município, enquanto os mais antigos aumentam de profundidade e diâmetro. Estas são apenas algumas avenidas e ruas onde a situação é mais crítica. Se em algumas artérias do centro da cidade o cenário é este, o que dizer das vias de acesso nos bairros periféricos?
O problema está na manutenção e na fiscalização
O presidente da Federação Moçambicana dos Empreiteiros (FME), Agostinho Vuma, considera que o maior problema das estradas na cidade de Maputo pode estar na fragilidade da fiscalização aquando da construção. Relacionada com este aspecto está também a deficiência na manutenção. Nas suas palavras, esta última questão constituí um calcanhar de Aquiles para a edilidade.
“Não sei quando é que foi feita a última reabilitação, mas parece-me que o Conselho Municipal de Maputo não tem capacidade financeira para garantir a manutenção das vias de acesso em tempo útil”, afirmou Agostinho Vuma.
O engenheiro disse ao @Verdade que, para além dos factores que apontou, há vários outros que concorrem para a má conservação das estradas e, consequentemente, para o surgimento de buracos um pouco por todo o lado, mas que não devem ser tratados de uma forma isolada.
Por um lado, de acordo com Agostinho Vuma, existe o problema da precipitação. Numa altura como esta em que chove acima do normal, as estradas ficam completamente alagadas porque não têm um sistema plenamente operacional de escoamento de águas pluviais. Este cenário acelera, sobremaneira, a degradação das vias de acesso.
Por outro, a nossa fonte apontou a sobrecarga e a pressão, cada vez maiores, exercidas sobre as mesmas estradas. Há cada vez mais camiões com uma tonelagem muito elevada a circular nelas e, aparentemente, ninguém olha para isso.
“Se é que este aspecto não foi previsto na altura da construção dessas vias, é preciso que hoje seja conjugado com as obras que vão ser feitas. A situação das estradas está directamente relacionada com a projecção que os seus gestores, no caso concreto o Conselho Municipal de Maputo, fizeram aquando da sua construção”, sugeriu Vuma, para quem a solução desses e outros problemas relacionados com as vias de acesso passa necessariamente pela requalificação da cidade.
Não recorrer à falta de dinheiro para justificar obras de má qualidade
Agostinho Vuma discorda do facto de que o maior problema das estradas da cidade se Maputo, e não só, seja a exiguidade do dinheiro disponibilizado pelo Governo, quer para a construção, quer para a reabilitação. Segundo ele, é concebível falar-se, em certos casos, do mau desempenho dos empreiteiros, mas principalmente da fraca fiscalização.
“Alguém deve estar preparado para fiscalizar os trabalhos durante a construção”, sublinhou a nossa fonte e acrescentou o seguinte: “enquanto não se conseguir resolver as dificuldades causadas pela queda pluviométrica, as nossas estradas terão sempre problemas”.
O asfalto usado nas estradas moçambicanas é adquirido na República da África do Sul e em alguns mercados da Europa, disse Vuma sem comentar sobre os custos de aquisição. Entretanto, ele garantiu que a durabilidade de uma estrada depende do padrão das obras e qualidade escolhidos pelo dono da empreitada. O tempo pode variar entre 15 e 20 anos.
Vuma chama a atenção para um aspecto: “pode-se dar o caso de uma estrada ser construída para durar 20 anos, mas se não forem observadas algumas regras tais como a tonelagem a suportar, todo o trabalho pode fracassar. E é preciso que haja básculas para isso.”
Município de Maputo nega falar sobre o problema
O @Verdade contactou, telefonicamente, na última sexta-feira (08), o vereador de Infra-estruturas no Conselho Municipal Maputo, Victor Fonseca, a fim de que nos falasse sobre os planos que provavelmente a edilidade tem para resolver os crónicos problemas relacionados com os buracos. Para o nosso espanto, o engenheiro vestiu a capa da arrogância e disse-nos que o município está a trabalhar, mas o que faz não é do nosso interesse.
Por isso, não precisa de entrar em detalhes. Com estas palavras, ele não só perdeu a oportunidade de, por esta via, explicar aos cidadãos o que é que será feito das covas que estão a desarranjar algumas vias de acesso da capital moçambicana, como também nos pareceu não ter argumentos válidos para contrariar as ilações que se tiram sobre os serviços da sua vereação.
Caos também na Matola
Os munícipes da Matola queixam-se de problemas idênticos aos de Maputo. Viajar pela Avenida da União Africana, vulgo Estrada Velha, é um tormento. A via parece estar completamente abandonada. Segundo aqueles cidadãos, a vereação de infra-estruturas continua a improvisar as intervenções sobre as estradas.
Ao invés de optar por obras de raiz, refugia-se em reabilitações improvisadas, como é o caso do tapamento de buracos e colocação de areia, o que não minimiza a situação, antes pelo contrário, sobretudo nos dias chuvosos.
O vereador de infra-estruturas no Município da Matola, Laitone Melo, explicou recentemente ao @ Verdade que as inquietações que os munícipes levantam são legítimas, mas ainda não têm uma solução definitiva à vista porque falta dinheiro. O que está a ser feito neste momento são trabalhos de rotina que consistem no tapamento de buracos das estradas asfaltadas e na terraplanagem das estradas de terra batida, de modo a estancar a degradação e garantir a transitabilidade.
Por ano, a edilidade só dispõe de cerca de 50 milhões de meticais para reabilitar as vias de acesso, valor irrisório porque a maior parte é composta por estradas cansadas, que, ao invés de uma reabilitação, precisam de uma reconstrução. “Este é que é o maior desafio”, disse Laitone Melo.
Segundo o nosso interlocutor, há um trabalho no sentido de se encontrar estratégias para a realização de obras de grande envergadura e mobilizar os parceiros a financiar intervenções na maior parte dos troços em péssimas condições naquela urbe.