@Verdade esteve na agreste província de Tete. Instalou-se em Songo e conversou, antes do último jogo do Moçambola , naquele pedaço de Moçambique, com Gilberto de Sousa, vice-presidente do Chingale de Tete. O clube que nos foi dado a conhecer treina num campo emprestado e nos pelados que surgem um pouco por toda a capital provincial. A única modalidade movimentada é o futebol. As outras deixaram-se desvanecer pela ausência do dinheiro.
Chingale é o maior clube da província. Mesmo quando joga no reduto do colosso financeiro HCB de Songo consegue arrastar mais adeptos. É, portanto, um clube popular. Porém, financeiramente está de rastos e a sua sobrevivência na mais alta prova do futebol nacional, o Moçambola, derivou do sacrifício de jogadores e dirigentes.
Garantiram a permanência no Moçambola na penúltima jornada e condenaram um histórico à despromoção. Aqui fica o essencial de uma conversa de sete minutos na cabine de imprensa do Estádio 27 de Novembro, em Songo...
(@Verdade) – Tiveram uma época bastante atribulada?
(Gilberto de Sousa) - Meio atribulada sim. Começámos a época mal a partir do primeiro jogo que tivemos no Chibuto cujo resultado foi enganador. Foi arranjado um empate, à última hora , pelo árbitro. Aquele resultado foi o calcanhar de Aquiles do Chingale no início da época.
Penso que se nós tivéssemos ganho aquele jogo de abertura as coisas seriam outras. A partir daquele jogo começámos a ter crise de resultados. Havia falta de confiança nos próprios atletas. Fomos andando, sabíamos que as coisas eram difíceis e estávamos preparados para tudo. Até para descer de divisão.
Conversámos todos os dias com os atletas e equipa técnica. A direcção esteve sempre ao lado deles. Dizíamos a eles que não tínhamos medo de descer. Já o tínhamos feito duas vezes. Estávamos prontos para tudo. Tivemos sorte e ganhámos o jogo onde as duas equipas precisavam de ganhar. Nós fomos felizes.
(@V) – No final do jogo, como é normal no Moçambola, a mão do árbitro foi evocada?
(GS) - Naquele jogo o Desportivo não deu nada. Se esteve em campo ou se viu o jogo pela televisão, se é que deram algum resumo ficou claro que o Desportivo não fez nada para merecer outro resultado que não fosse a derrota. Nós entrámos decididos e poderíamos ter marcado mais golos. Infelizmente cortaram muitas jogadas do nosso ataque naquele jogo.
Tanto mais que se notar na bola em que o defesa do Desportivo é expulso foi por um gesto que se tinha tornado rotineiro pelo facto do bandeirola sempre assinalar foras de jogo quando o Chingale atacava. O fiscal sempre levantava a bandeirola. O atleta do Desportivo sabia que todas as jogadas estavam a ser interrompidas pelo fiscal. Foi por isso que pegou a bola e viu a cartolina vermelha.
(@V) – A vossa permanência foi fruto de que espécie de sacrifício?
(GS) - Foi uma vitória do sacrifício. Foi uma época de sacrifício também para o clube onde tivemos muitos problemas. Problemas financeiros também. Sabe que no Moçambola as equipas precisam de ter dinheiro para se movimentarem. São prémios de jogo, salários e lá nos fomos aguentando.
(@V) – Para além do futebol movimentam outras modalidades?
(GS) – Não. Movimentamos três camadas no futebol. Nas camadas inferiores temos os juvenis e os juniores. E depois temos a equipa sénior. Não temos capacidade para movimentar mais atletas porque com o que já gastámos com essas categorias pretender movimentar mais modalidades seria cavar a própria sepultura.
(@V) – Mas nem sempre foi assim...
(GS) - ... Gostaria de movimentar. Já movimentámos em tempos o basquetebol. Tivemos uma equipa de juvenis que fez furor nos escalões de formação nos anos 80, 90. Gostaríamos de movimentar, mas não temos capacidade.
(@V) – Porque razão não movimentam os escalões de base, como iniciados por exemplo?
(GS) - Iniciados tivémo-los no ano passado. Competimos com duas equipas para projectar os juvenis e os juniores. Se for a ver as nossas equipas este ano, das camadas de formação, a idade é muito inferior em relação ao escalão que representam. Temos quatro juniores na equipa dos seniores.
(@V) – A única forma de reduzir os custos com a equipa sénior é apostar na formação. O Chingale não pensa em contornar os problemas financeiros dessa forma?
(GS) - Sim. Para formar temos de ter campos. O principal calcanhar de Aquiles é um campo onde podemos fazer essas coisas todas. Não temos campo para treinar. Nós treinamos duas vezes no campo do Desportivo de Tete. Para as camadas de formação temos de arranjar campos fora da cidade. Mesmo a equipa sénior tem treinado em campos pelados fora da cidade. Em campo onde muitas vezes o treino tem de parar para dar passagem a um cabrito, um carro, etc.
Não temos campo, mas pronto, é possível, pela conversa que tivemos , fez-se o lançamento da primeira pedra da construção do nosso estádio. Foi pena haver mudanças na direcção da EDM em termos de PCA, mas penso que o assunto terá andamento agora. Estamos convictos que no princípio do próximo ano vamos arrancar com a construção do nosso próprio campo.
(@V) – O Chingale nunca teve um campo?
(GS) - O Chingale já teve um campo. Ali onde é a sede do clube era o nosso campo, quando o Chingale se designava Sporting Clube de Tete. Ali onde está a sede do clube, onde está a rotunda para ir a Tete.
Aquele espaço todo era o campo do futebol do Sporting, mas com a construção da ponte e a estrada, foi nos retirado aquele espaço e deram-nos outro muito menor, na zona do Matadouro, que infelizmente após a independência e por causa da guerra começou a ser invadido por refugiados.
As pessoas fugiam das suas zonas de origem e como não tinham lugar para ficar ocuparam o campo. Depois houve acordos com o Conselho Municipal onde tivemos aquele espaço em direcção ao Aeroporto.
(@V) – Perspectivas para o futuro?
(GS) - Nós temos de nos reorganizar. O Moçambola está a acabar. Sabemos que um clube não é só o futebol. É nossa vontade movimentar outras modalidades. O basquetebol, o atletismo, etc. Tanto mais que temos alguns campeões em Tete no atletismo. Gostaríamos de pegar neles e enquadrá-los no Chingale.
No início da próxima época desportiva avançaremos com o atletismo que é uma modalidade que não acarreta muitos custos e futuramente pensamos em reactivar o basquetebol que foi uma modalidade de sucesso no clube.