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Polícia assume que parte dos cornos de rinoceronte foram roubados por moçambicanos que “foram confiados para proteger”

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Afinal, são 12 dos 65 cornos de rinocerontes apreendidos num condomínio luxuoso em Tchumene, a 12 de Maio em curso, no município da Matola, que foram roubados num lugar que se supunha estar fechado a sete chaves e sob a vigia de pessoas treinadas e pagas para garantir a segurança. Ficaram a nu as fragilidades das nossas autoridades no combate a este mal com impacto nocivo na nossa economia.

Depois de ver frustrada a sua tentativa de abafar o caso, a Polícia da República de Moçambique (PRM) veio, finalmente, a público, na quarta-feira (27), assumir que, realmente, os cornos foram roubados em circunstâncias ainda por esclarecer.

Foi o próprio Emídio Mabunda, porta-voz da PRM na província de Maputo, que na segunda-feira (26) disse ao @Verdade, à boca cheia, que não correspondia à verdade que os cornos tinham sido subtraídos, que deu o dito por não dito e afirmou, vexado, que os larápios chegaram a ponto de tentar ludibriar as autoridades substituindo os "troféus"por chifres de gado bovino.

Nas instalações onde o produto em questão estava supostamente muito bem guardado não houve arrobamento, o que significa que as pessoas que protagonizaram tal situação conhecem bem o sítio e as condições em que os cornos estavam armazenados, asseverou Emídio Mabunda. Este acrescentou que seis indivíduos moçambicanos, a quem se tinha confiado as chaves dos cadeados e a vigilância do local,já estão detidos. Ele não disse se os visados são ou não polícias, "são cidadãos moçambicanos, o trabalho feito pela polícia mostra que não foi nenhum arrombamento, as pessoas tinham acesso ao local, são pessoas que foram confiadas para proteger".

Questionado sobre onde se encontram os "troféus" remanescentes, o porta-voz da Polícia ficou impaciente e disse que estão num lugar seguro, como sempre. Ele recusou-se a revelar em que instalação os cornos estavam na altura do roubo e acusou a Imprensa de tentar ridicularizar o trabalho da corporação, o que levanta suspeitas em relação a tudo o que a corporação tem dito à volta desde problema.

Aliás, há que considerar, também, que as pessoas presas podem não ser necessariamente as que se apoderaram dos referidos cornos. Parece um contra-senso que pessoas cientes de que as chaves de um armazém que contém produtos sob a sua vigiam se atrevam a extraviá-los. O que aparenta ser óbvio é que outros indivíduos, incluindo os chefes da própria Polícia, tenham tido acesso às chaves...

Segundo Mabunda, os "troféus" já não estavam sob alçada da PRM, mas, sim, de outras entidades do Estado, que em coordenação com a corporação pediram a esta para garantir a sua segurança.

Em Moçambique, quase que já não existem rinocerontes para contar a história. Segundo o Fundo Mundial para a Vida Selvagem e Natureza (WWF) 85% destas espécies encontra-se na África do Sul, onde anualmente são reportados casos de abates ilegais por caçadores furtivos no Parque Kruger, na fronteira com o nosso país.

O tráfico ilegal de cornos de rinoceronte proliferou no país devido à sua grande procura na Ásia, onde são apreciados pelos seus supostos benefícios no tratamento do cancro e de outras doenças. Conta-se que o pó de corno deste animal pode ser comercializado ao preço da cocaína e do ouro. Calcula-se que em cada oito horas um rinoceronte seja morto no mundo, vítima de caçadores ilegais que vendem os seus cornos no mercado negro.

O Vietname é actualmente o responsável número um por este massacre, devido à falsa crença de que os cornos dos rinocerontes são capazes de curar o cancro. Um quilo deste “troféu” chega a custar cerca de dois milhões de meticais e é apontado como o terceiro produto mais vendido no mercado negro mundial, a seguir às armas e às drogas.

Ainda no país, os casos relacionados com a caça e abate ilegal de rinocerontes e elefantes, bem como o tráfico de cornos e marfim ainda são tratados de forma pouco transparente. O exemplo disso é vazio que existe na informação anual sobre a Justiça, apresentada ao Parlamento, este mês, pela Procuradora-Geral da República (PGR), Beatriz Buchili, relativamente à caça furtiva.

A guardiã da legalidade disse que o abate de espécies protegidas tais como rinocerontes e elefantes pelas redes criminosas e com recurso a armas de fogo e viaturas de grande cilindrada, para extracção de cornos e pontas de marfim visando a sua comercialização agravou-se nas províncias de Maputo (14), Gaza (25), Manica (12), Sofala (09) e Niassa (13).

Esperava-se que Beatriz Buchili dissesse, objectivamente, quem já foi punido e como em conexão com estes casos. Ela limitou-se a dizer que várias pessoas foram acusadas, julgadas e condenadas a penas de prisão e multas. Não disse em que cadeia se encontram nem revelou os valores das multas a que se referiu.

No terreno, há uma aparente impunidade dos caçadores furtivos e dos traficantes e cornos e pontas de marfim, que continuam a fintar os fiscais ou se aliam a eles para despovoar as reservas moçambicanas. Aliás, alguns polícias envolvem-se nestes casos por ganância, uma vez que as redes criminosas movimentam avultadas somas.


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