Pelo menos duas pessoas perderam a vida e outras em número não especificado contraíram ferimentos graves resultantes de queimaduras quando tentavam apanhar peixe que estava a ser incinerado, no último sábado (27), na localidade de Gazuso, no distrito de Murrupula, província de Nampula.
Segundo testemunhas, constam pelo menos nove cidadãos internados no Hospital Central de Nampula (HCN), um no Centro de Saúde de Murrupula e outros recorreram a tratamentos tradicionais nas suas próprias casas. Há ainda relatos de existência de outros enfermos, em situação de grave, no povoado de Namilhalo, próximo do local onde o pescado foi incinerado.
José Chabualo, secretário daquela unidade residencial, disse que o incidente começou quando um camião, pertencente a uma empresa denominada BLUE, Lda, descarregou 12 toneladas de carapau naquela zona para ser queimado. Uma equipa de técnicos da Inspecção Nacional das Actividades Económicas (INAE) esteve também naquela região acompanhar a destruição do referido peixe.
Enquanto descarregava-se a uma parte do produto, um grupo de jovens tentou desafiar as chamas para recolher o outro carapau que já estava a ser reduzido a cinzas. Nenhum peixe foi retirado do local porque o fogo era intenso.
Castelo Pedro, de 25 anos de idade, residente na aldeia de Mulio, há 20 quilómetros da sede do distrito de Murrupula, é uma das pessoas que escaparam da morte mas parte do seu corpo totalmente deformado em consequência da queimadura. Casado e pai de dois filhos, o cidadão confirmou que presenciou a morte de um dos seus amigos e vizinhos, que em vida respondia pelo nome de Mateus.
Isidro Vicente, de 24 anos de idade, confirmou igualmente a sua participação na tentativa de apanhar o carapau para o consumo, mas disse que teve o incentivo de alguns trabalhadores de BLUE, Lda, que supostamente estavam a vender parte do peixe nos arredores da cidade. “Esta prática levou-nos a deduzir que se tratava de produtos consumíveis”.
Totinho Tomás, casado e pai de quatro filhos, também sofreu queimadura e a sua vida e dos seus dependentes ficou cada vez mais complicada. Para além de dificuldades de locomoção, ele não consegue falar nem mastigar nenhum alimento devido à gravidade dos ferimentos e declara que está arrependido por ter colocado a sua vida em perigo por causa de carapau.
Entretanto, a nível do governo de Murrupula ninguém quis falar do assunto. No centro de saúde local, a nossa Reportagem foi recebida por uma enfermeira, identificada pelo nome de Preciosa Pedro Quatala, de 28 anos de idade, a qual confirmou que três dos quatro doentes que deram entrada naquela unidade sanitária foram encaminhados ao HCN.
Por sua vez, a delegação provincial do INAE e a BLUE, Lda não prestaram nenhum depoimento. Porém, Muaruri Abudo, inspector daquela instituição do Estado conformou a sua participação no acto de destruição das 12 toneladas do peixe em causa e presenciou o incidente mas não avançou detalhes por alegada falta de autorização para o efeito.