Mamudo Assane é um pai xiconhoca. Ele abandonou a família e está em parte incerta, supostamente porque não aceita conviver com o seu descendente deficiente, Abdala Mamudo Assane, de 17 anos de idade, que nasceu com problemas de audição, fala e, em 2010, o seu estado de saúde degenerou em paralisia que afectou os seus membros superiores e inferiores.
A família de Assane reside no quarteirão cinco, na unidade comunal oito de Março, na cidade de Nampula. A vida de Abdala é um drama desde que nasceu e ser rejeitado por um pai é uma das piores coisas que podem acontecer a um ser humano nas condições em que ele se encontra.
Não se sabe ao certo que problemas causaram a ausência da faculdade de ouvir e a perda de movimentos no adolescente. Entretanto, a sua mãe assumiu ao @Verdade que durante a gestação consumia fármacos sem nenhuma prescrição médica.
Meses após o seu nascimento, Abdala mostrou-se um menino pouco saudável. A progenitora, Ancha Assane, recorreu aos serviços do Hospital Central de Nampula mas não obteve sucesso. “Recordo-me de que o meu filho não ficava um mês sem adoecer”.
Nesse momento, segundo a nossa entrevistada, Mamudo Assane esteve presente e acompanhava o filho a fim de ser observado pelos médicos, os quais disseram que tarde ou cedo, Abdala teria, dentre outros problemas, os da fala e da audição. Foi a partir dessa altura que Mamudo começou a demonstrar aversão em relação ao próprio filho e à cônjuge.
“Desde aquela data, o meu esposo passou a não dormir em casa, noutros dias chegava tarde e embriagado. Um dia abandonou definitivamente o lar e, quando lhe perguntámos sobre a atitude que tomou, confessou que o menor lhe incomodava por ser deficiente”, narrou Ancha que nos revelou que esse xiconhoca disse que não iria assumir um filho com deficiência auditiva.
E os terapeutas não estavam enganados, pois, em 2010, Abdala ficou paralítico, o que significa que, se Mamudo Assane teve a coragem de rejeitar um filho sem audição, dificilmente vai aceitar uma criança entorpecida.
Mesmo separada e debatendo-se com uma série de adversidades para sobreviver, Ancha nunca desistiu de cuidar do seu menino. Ela assegura que não cometeria uma xiconhoquice dessas! Ela procura dar o melhor de si para que o adolescente não cresça com perturbações causadas pelo estigma.
Abdala não frequenta a escola por ausência de meios para o efeito, especialmente transporte. Aliás, os parentes paternos do rapaz também o rejeitam alegadamente porque nunca na família nasceu alguém com aquelas anomalias.
Ancha pensa que o agravamento da deficiência do filho pode ter sido causado pela falta de dinheiro para comprar os medicamentos que eram prescritos pelos profissionais de saúde, principalmente para submetê-lo a um tratamento médico especializado. “Quando procurava o pai ele fugia. Nalgumas vezes encontrava-o e levava as receitas com a finalidade de comprar os fármacos, mas nunca o fez”.
Fátima Patela, avó do adolescente, contou-nos que um dia o seu neto se dirigiu a um fontanário com o intuito de buscar água e, de repente, caiu e rebolou no chão. Ninguém prestou atenção nele porque algumas pessoas pensavam que se tratava de uma brincadeira.
Abdala, segundo a nossa interlocutora, foi socorrido e levado para o Hospital Central de Nampula, onde recebeu vários tratamentos, porém, o problema agravou-se e a partir daí nunca mais voltou a locomover-se. Sem o pai por perto e a mãe sem dinheiro, o rapaz nunca mais beneficiou de um exame médico.
Apesar da sua falta da faculdade de audição, aos 10 anos, Abdala passou a dedicar-se a pequenos serviços remunerados em diferentes mercados da cidade de Nampula e conseguia dinheiro para ajudar nas despesas de casa, enquanto o progenitor deambulava pela urbe.
Em 2010, o rapaz começou a enfrentar o maior drama da sua vida quando ficou com os membros superiores e inferiores paralíticos. A mãe e a avó, com quem vive, dependem da venda do carvão vegetal e de outros produtos.
Presentemente, o rapaz passa o dia sentado na sala da sua casa, da qual dificilmente se move para fora sem a ajuda dos familiares.