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Jornalismo investigativo em Moçambique ainda é precário

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Um estudo tornado público esta terça-feira (10) sobre jornalismo investigativo revela que esta área ainda está numa situação precária em Moçambique e aponta como motivos a má formação dos profissionais, a “cultura de Estado fechado e politizado”, entre outros.

O relatório do IREX, baseado em reportagens divulgadas no ano passado, descreve as principais lacunas verificáveis nos textos jornalístico publicados nos media moçambicanos. Em geral, trata-se de questões ligadas à formação de jornalistas que culminam com dificuldades na “aplicação das regras gramaticais de selecção do vocabulário e estruturação frásica, com destaque para a repetição e subordinações desnecessárias, hierarquização textual da informação e problemas de distinção entre a linguagem oral e a linguagem escrita”.

O documento ressalva, porém, o facto de haver casos excepcionais de jornalistas que “escrevem bem um texto” mas mesmo assim com dificuldades na identificação da história real que sirva como base de notícia. Não menos importante nas constatações feitas durante a pesquisa é a baixa capacidade analítica de muitos repórteres e redactores.

Aliás, este ponto é referido como sendo um dos grandes desafios do jornalismo moçambicano. “O repórter encontra informação, mas não consegue transformá-la em conhecimento, ou seja, traduzi-la em pautas ou matérias jornalísticas”, lê-se no relatório. Ainda no rol das dificuldades que minam o exercício de um jornalismo investigativo é apontada a qualificação da mão-de-obra como sendo um “aspecto crítico”, porque as redacções contam maioritariamente com pessoal jovem, ainda com um longo caminho por percorrer.

“Por isso, a formação e o acompanhamento profissionais deveriam ser uma preocupação das empresas mediáticas, com vista ao seu próprio crescimento, retenção de profissionais, produção de matérias sob os mais altos padrões de qualidade jornalística e afirmação no mercado”, facto que, no geral, só não ocorre devido à fraca capacidade institucional.

Para o IREX, a baixa qualidade do ensino está a reflectir-se na qualidade do jornalismo praticado no país, particularmente na redacção e na comunicabilidade dos textos. A qualidade do ensino no país esta a ter efeitos “catastróficos”, pois os jornalistas, que também são formados no Sistema Nacional de Educação, apresentam-se com uma visão do mundo bastante limitada.

“Nos últimos anos, a multiplicação de escolas superiores, universidades e o aumento da quantidade de graduados em jornalismo não têm sido acompanhados por uma formação rigorosa de profissionais e académicos dos media”.

Os jornalistas moçambicanos, segundo aponta o estudo, são financeiramente vulneráveis, facto que resultante de salários baixos que os escribas auferem e na incapacidade financeira dos media para assegurar boas condições de trabalho e custear a produção de reportagens investigativas. “O baixo nível de salários obriga à procura de fontes complementares.”

“É comum as viagens ditas de investigação jornalística e cobertura de eventos serem financiadas por personalidades, organizações empresariais ou políticas a quem a notícia diz respeito.”Este facto retira credibilidade, dá lugar à censura, e favorece relações promíscuas entre o órgão de informação, o jornalista e determinados sectores ou individualidades interessados numa dada matéria jornalística.”

Entretanto, como nem tudo a desastre, a pesquisa do IREX dá nota positiva a melhorias, nos últimos anos, na gestão de empresas jornalísticas.

“Segredo do Estado” bloqueia o acesso à informação

“A cultura de Estado fechado e politizado que prevalece em Moçambique constitui uma barreira à realização de reportagens investigativas.” A investigação jornalística ainda mantém-se refém de instrumentos legais que não facilitam o acesso às fontes de informação.

“Os repórteres vêem-se penalizados na base de um conjunto de leis dispersas e regulamentos do passado ainda activos, mas em colisão com a Constituição e a Lei de Imprensa (Lei 18/91 de 10 de Agosto) vigentes,” denuncia o relatório.

Por outro lado, a Lei Sobre o Segredo do Estado (Lei nº 12/79 de 12 de Dezembro), impõe fortes restrições sobre a liberdade de informação, bloqueia o acesso a documentos oficiais e dados que contêm informação de interesse público. A própria Lei de Imprensa é lacunar e, por não tipificar os crimes de imprensa, dá lugar à aplicação de outras leis do ordenamento jurídico nacional.

Agenda “imposta”

A maior parte das reportagens consideradas investigativas realizadas em 2012 não tiveram como origem a iniciativa do jornalistas, mas foram baseadas nas “agendas públicas” que posteriormente foram capitalizadas pela imprensa. No entanto, a pesquisa da IREX aponta três fontes que deram origem a tais reportagens, nomeadamente: agenda pública, agenda da sociedade civil e da mídia.


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