Os terminais rodoviários de passageiros da cidade de Nampula encontram-se em condições deveras deploráveis e sem o mínimo de condições básicas para serem usados pelos utentes, pese embora a edilidade esteja a cobrar taxas diariamente. No local, não existe segurança, há falta água, de sanitários públicos, de dormitórios, dentre outras infra-estruturas, o que demonstra a falta de vontade por parte do município para tornar o sítio apetecível.
Viajar de Nampula para quaisquer pontos dentro e fora da província de Nampula exige que os citadinos eduquem os seus estômagos no sentido de evitarem desarranjos intestinais, pois quando isso acontece as acácias servem latrinas ao relento. Os passageiros que durante as viagens levam consigo crianças não têm boas histórias para contar, uma vez que, em caso de necessidades maiores, por exemplo, a via pública é a única alternativa. Os terminais rodoviários interprovinciais e interdistritais (FAINA e Padaria) de passageiros existentes na cidade de Nampula não dispõe de nenhuma infra-estrutura em condições para ser usada. Falta quase tudo, incluindo bilheteiras. As taxas diárias por estacionamento de viaturas variam de 75 a 100 meticais.
Os utentes dos terminais interprovinciais rodoviários em alusão manifestam-se agastados com o município de Nampula por causa da alegada insensibilidade em relação à ausência de condições mínimas para o funcionamento condigno das infra-estruturas que todos os dias movimentam milhares de pessoas idos de várias origens e para vários destinos, mas que, dada a ausência sanitários, satisfazem as suas necessidades, tais como defecar e urinar ao relento, o que constitui um autêntico perigo à saúde pública.
Os citadinos e transportadores que partem de Nampula para o exterior e vice-versa descansam também ao relento e expostos a todo tipo de intempéries. Alguns motoristas e seus ajudantes pegam algum valor aos donos das residências localizadas nas imediações dos terminais para usar as suas casas de banho, uma vez que, por vezes, fica-se mais de 10 dias no parque à espera do carregamento para a viagem.
Os operadores dos transportes semi-colectivos de passageiros, vulgo “chapa 100”, que exploram as rotas que ligam a cidade de Nampula a alguns distritos, utilizam, obrigatoriamente, os mesmos terminais. Ao longo das estradas da urbe não é permitido estacionar camiões, porém, no terminal da FAINA, por exemplo, devido à precariedade das condições, o grosso dos automobilistas parqueia os seus camiões fora das instalações e, por conseguinte, causam congestionamentos e criam uma desordem que concorre para a sinistralidade devido à inobservância das normas de trânsito e falta de sinalização.
O terminal da FAINA, localizado num dos pontos de entrada à cidade de Nampula, é o mais movimentado e recebe centenas de viaturas de transporte de carga diversa, proveniente das províncias do Centro e Sul do país, incluindo dos países vizinhos, nomeadamente Zimbabwe, Malawi e Zâmbia. Para além desses meios circulantes, o local alberga autocarros de transporte de passageiros, que exploram as rotas interprovinciais e interdistritais, tais como Nampula Mecubúri, Ribaué, Lalaua, Murrupula, Malema e Rapale. É o único terminal que dispõe de muro de vedação e os utentes daquele terminal pagam dois a cinco meticais para utilizar os lavabos e latrinas, apesar de serem impuros.
Amélia Afonso, responsável pelas cobranças desse dinheiro, disse-nos que a água usada nos mesmos balneários para a limpeza é comprada nos bairros periféricos, uma vez que não há torneiras no local. Mensalmente, segundo a nossa entrevistada, o Conselho Municipal da Cidade de Nampula colecta mais 15 mil meticais. Aliás, o sanitário em causa entrou em funcionamento em Junho do ano em curso mas já está lastimável. Exala um cheiro nauseabundo. Amélia Afonso disse que não há meios para eliminar o problema porque nem água existe nas instalações. A edilidade nunca disponibilizou produtos de limpeza para o efeito.
“Continuaremos assim, não tenho como eliminar o cheiro asqueroso de que os passageiros e outros utentes se queixam todos os dias. Mesmo que o município traga todo tipo de produtos de higiene o cheiro vai continuar porque não tenho água”, afirmou Amélia Afonso. Amisse Januário, um dos automobilistas que fazem a rota cidade de Nampula/distrito de Murrupula, lamentou o estado em que se encontra o terminal da FAINA e disse que o presidente do município prometeu criar melhores condições de trabalho para aquele lugar mas as suas palavras não passaram de letra-morta. “Todos os condutores devíamos estacionar os nossos veículos no parque mas o sítio é impuro. Não há condições para pernoitaremos nos camiões, não existem sanitários nem água”.
“Os passageiros já não dormem neste parque devido ao medo de serem assaltados e há falta de balneários. Temos Polícia Municipal dentro do parque mas nada faz para o bem- -estar de todos. A imundície tomou conta do local e nós já não pernoitamos no interior dos camiões. Sentimos que não existem condições para permanecer no terminal”, vincou Paulo Cossa, outro motorista que opera na rota Maputo/Nampula. Um outro parque que funciona em condições deveras deploráveis na cidade de Nampula é o da Padaria Nampula. A partir dali os automobilistas fazem também as rotas interdistritais e interprovinciais, ligando as cidades de Nampula à Nacala-Porto, Pemba e às cidades de Quelimane, Beira, Maputo, Lichinga, por exemplo. Este parque funciona num espaço dos Caminhos-de-Ferro de Moçambique e não está vedado.
A única diferença em relação ao terminal da FAINA é o muro de vedação. Os alimentos ali confeccionados encontram-se expostos ao sol propensos a contaminação de bactérias que podem degenerar doenças diarreicas. Os passageiros são expostos a quase tudo. Quando chuvoso o caos é maior. Os roubos e assaltos são frequentes e acontecem mesmo na presença dos agentes da Lei e Ordem. O chefe do Departamento de Relações Públicas e Imagem, no município de Nampula, Milagre Armando, reconhece os problemas acima descritos, mas explica que apenas o terminal da FAINA está sob gestão do município. Os restantes são de outras entidades e nem foram autorizados para o exercício das actividades em curso neste momento.
“Para os parques da Padaria Nampula e de Nalokho o município não pode ser obrigado a construir balneários, pois naqueles espaços os automobilistas operam à força e o município está a estudar formas de transferi-los para outro lugar devido à sua má localização”, sublinhou Milagre Armando, para quem há dois projectos de construção de terminais nas zonas da Rex e Muahivire-Expansão para resolver os problemas que os utentes dos terminais têm enfrentado todos os dias. A falta de higiene caracteriza igualmente as novas carruagens do Corredor de Desenvolvimento do Norte, empresa gestora dos serviços de Portos e Caminhos-de-Ferro de Moçambique. São máquinas adquiridas há menos de quatro meses mas os sanitários já estão impuros, por isso, foram encerrados.
Para viajar de Nampula/Cuamba e vice-versa, num percurso de cerca de 450 quilómetros, é uma autêntica dor de cabeça para os passageiros porque não se pode defecar nem urinar. É que a empresa proíbe os passageiros de usarem as casas de banho, sobretudo fazerem necessidades maiores, porque não há água. A direcção do Corredor de Desenvolvimento do Norte em Nampula negou se pronunciar sobre este caso, porém, um funcionário da empresa garantiu-nos que a proibição do uso dos balneários tem a ver com a avaria da electrobomba que assegura a existência da água em todas as carruagens.